A oportunidade mais óbvia de 2026


Óbvia é uma palavra quase impossível para o investidor brasileiro. Num país em que até o passado é incerto, a análise de cenários para cada vez mais difícil.

Para onde vai o dólar num ano de eleições? Será que a bolsa americana já não subiu demais? Depois de uma das maiores altas dos últimos tempos da bolsa brasileira, ainda existe espaço para mais ganhos?

Essas perguntas não são ingênuas. O problema é que elas empurram a gente para a atitude mais confortável e mais cara do mercado: esperar. Você passa meses aguardando o cenário ficar claro e, quando fica, a oportunidade já foi precificada, o que em outras palavras, quer dizer perdida!

Só que no início de 2026 existe uma oportunidade que muita gente ainda não está vendo, mas que já virou convicção na cabeça dos maiores gestores. E o mais interessante é que essa oportunidade não está escondida em um produto sofisticado e nem depende de acesso privilegiado.

Ela está justamente no investimento mais querido e mais acessível ao brasileiro: a renda fixa.

E o mais incrível é que não seria nenhuma surpresa, se títulos seguros rendessem mais de 50% em único ano!

O cenário que cria a oportunidade

A maior parte das pessoas olha para renda fixa como sinônimo de Selic e CDI, aquele rendimento tranquilo e sem oscilações no meio do caminho. Só que essa classe tende a dar agora rendimentos cada vez menores, enquanto isso o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Pré, vão ganhar todo o destaque!

Para entender por que esse cenário é tão “óbvio”, vale olhar o retrato do fim de 2025. Fechamos com a Selic em 15% e o Focus do Banco Central apontava inflação no final de 2026 para 4,10%. Estamos falando de quase 11% acima da inflação!

Esse juro alto existe por um motivo que todo mundo sente, o fiscal. Quando o governo gasta mais do que arrecada, o mercado exige uma taxa maior para emprestar por prazo.

O ponto é que, quando você compara o Brasil com o resto do mundo, a diferença fica grande demais para ignorar. Em dezembro/25 o Brasil aparece com juro real de mais de 10%. A Rússia vem perto, com algo próximo de 9%. Depois, o patamar cai bastante: Índia 4,5% e México 3%.

O fiscal ajuda a explicar por que estamos acima do México, por exemplo. O que ele não explica tão bem é por que estamos tão acima de quase todo mundo ao mesmo tempo? Quando essa distância abre demais, costuma existir espaço para ajuste. E é exatamente aí que mora a oportunidade!

O prazo para capturar esse cenário pode ser menor que você imagina

O Banco Central volta a se reunir em 27 e 28 de janeiro de 2026.

Não é necessário que a Selic caia nessa reunião para o mercado se mover. O que muda preço é a trajetória, o jeito como a conversa começa a mudar. Quando o mercado passa a aceitar que a direção do ciclo é para baixo, as taxas gordas que você vê hoje no Tesouro começam a sumir.

A janela não fecha quando todo mundo concorda. Ela fecha quando o mercado começa a pensar de forma diferente.

Qual o potencial de retorno em termos práticos?

Vamos assumir um ponto de partida simples:

Neste momento, títulos do Tesouro atrelados à inflação com vencimentos longos estão pagando IPCA + 7% ao ano ou mais.

Se o investidor comprar nesse patamar, ele garante essa taxa de inflação + 7% para o longo prazo. Mas o "pulo do gato" não é o carrego, é o ganho de capital na oscilação.

Para entender esse potencial, pense no mercado de títulos como uma gangorra: quando a taxa de juros do mercado cai, o preço do título que você tem na carteira sobe. E aqui entra a "alavanca": quanto maior o prazo do título, mais explosivo é esse movimento.

A tabela abaixo mostra exatamente esse impacto estimado no preço (o ganho de capital), caso o mercado passe a exigir taxas reais diferentes no futuro, além do rendimento que você já contratou:



Agora observe com atenção.

Esses ganhos são adicionais. Eles vêm além da inflação e dos 7% reais ao ano que já foram contratados.

E repare em algo importante:

O título não precisa chegar a IPCA + 4% para entregar um retorno relevante. Uma normalização parcial, para IPCA + 6%, já gera ganhos expressivos, especialmente nos vencimentos mais longos.

O Vencimento não é o seu prazo de investimento

Muita gente olha para um título 2045 ou 2050 e pensa que ele só serve para quem vai usar o dinheiro lá na frente.

O vencimento é o prazo máximo do contrato, não o prazo em que o ganho aparece.

O que define se esse tipo de título faz sentido é outra pergunta: você consegue atravessar oscilações sem se sentir obrigado a vender no pior momento?

Pensa no exemplo de um aposentado.

Se ele não pretende consumir todo o patrimônio principal nos próximos 5 a 10 anos, ela pode sim ter uma parte em um título 2045. Não porque ele quer esperar 19 anos, mas porque ele tem tempo para deixar o mercado reprecificar. Se em 1 ou 2 anos a taxa cair de 7% para 6% ou 5,5%, boa parte do retorno já foi alcançado e ele pode realizar parte do ganho e ficar mais tranquilo.

O erro é tratar o título como casamento até o vencimento. O título é apenas mais uma ferramenta para extrair retorno como qualquer outro investimento.

A oportunidade não é exatamente igual no crédito privado

Muita gente tenta copiar essa oportunidade no crédito privado, principalmente em ativos isentos. Parece lógico, porque as taxas também ficam altas.

O problema é que estamos analisando aqui a possibilidade de saída antecipada, e ela pode ser a maior fonte do seu retorno, só que quando a tentamos vender um título em meio à uma queda da taxa de juros, eles perdem a atratividade e, sem ninguém querendo comprar, as corretoras cobram ainda mais spread nesse momento, retirando boa parte do retorno.

No Tesouro Direto, a liquidez é muito maior. Isso não elimina oscilação, mas faz diferença na hora de capturar o prêmio na prática.

Por isso o crédito privado é sim uma ótima alternativa, mas apenas se a sua ideia for levar à vencimento.

Como transformar em decisão personalizada?

A forma prática de pensar nisso não é separar dinheiro da vida. É separar dinheiro por objetivos financeiros. Quase ninguém consome todo o capital investido em 12 ou 18 meses. Então o ponto é assumir isso com honestidade e dar um destino inteligente.

Primeiro, o que sustenta seu cotidiano e suas emergências não entra nessa conversa. Segundo, os objetivos que podem exigir capital até 2027 também não entram, porque a rentabilidade até pode vir antes, mas não vale o risco de esperar ela próxima de um período eleitoral.

Depois disso, a decisão vira uma escolha de nível de oscilação. Quanto mais distante o vencimento, maior a volatilidade, maior o potencial de ganho se a taxa fechar. E a forma de entrar que mais faz sentido, principalmente com janeiro no radar, é construir posição em parcelas.

Por fim, tenha uma bússola de saída. Se você travou perto de IPCA mais 7% e o mercado começar a negociar perto de IPCA mais 5%, vale pensar em reduzir risco e capturar o ganho. E se um dia a taxa real se aproximar de algo como 4,5%, que é uma referência muito citada para juro real neutro no Brasil, isso costuma ser um alerta ainda mais forte de que o prêmio já foi capturado.

Muita gente não faz isso. Fica esperando vencimento e perde o melhor momento.

O cenário não se repete, mas que ele rima, ele rima!

Curiosamente, o cenário de juros batendo IPCA+8% se repetiu em ciclos de 10 anos:

  • 2005 - No primeiro mandato de Lula, Henrique Meirelles tentava controlar uma inflação muito mais alta com uma Selic que chegou à 19,75%. Na época era comum encontrar títulos pagando IPCA +8 ou 9% sem parecer ser um sinal de pânico eminente.
  • 2015 - Marcado pelo descontrole fiscal do governo Dilma, em 29 de setembro de 2015 a NTN-B com vencimento em 2019 bateu 8,03% + IPCA resultando inclusive na suspensão temporária das negociações no Tesouro Direto devido à volatilidade. Esse fator, entre outros, acabou culminando em seu Impeachment um ano depois.
  • 2025 - Em outubro desse ano, alguns títulos voltaram à pagar IPCA+8% com o presidente do Banco Central indicado pelo governo atual indicando problemas com gastos descontrolados do governo.

Em todos os anos seguintes foi vista uma alta valorização desses títulos, mas temos que lembrar que no fim de 2026 teremos eleição e isso tende a aumentar o barulho, mexer com prêmio de risco e ampliar oscilações em prefixados e IPCA+ longos.

Então a regra prática é simples.

Se existe chance real de você precisar desse dinheiro até 2028, ou se você sabe que vai se incomodar a ponto de vender se o investimento cair no meio do caminho, essa estratégia não é para você.

A oportunidade existe, mas ela cobra um preço emocional.